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“It’s the end of the world, as we know it”, cantou a banda norte-americana R.E.M. nos idos nos anos 1980. Certamente, estamos vivenciando um desses pontos de ruptura. E a chamada apocalíptica é apenas uma metáfora para dizer que o mundo mudará para sempre. Quando superarmos a crise de saúde pública, que está levando a vida de muitos e abalando os negócios, encontraremos uma sociedade bastante modificada pela pandemia do coronavírus.

Hoje, claramente, e por força das circunstâncias, nossas vidas foram levadas para a internet e para dentro dos devices. Se antes, nos policiávamos para balancear as horas online com uma “vida real de melhor qualidade”, hoje, estamos obrigados a visitar museus, assistir aulas, fazer pedidos, participar de reuniões a partir uma telinha. E o que mais?

 

Como o coronavírus mudará o consumidor, as empresas, a sociedade será impactada pela COVID-19?

Estamos vivenciando mais um ponto de desequilíbrio, um “tipping point” como havia descrito o jornalista e escritor Malcolm Gladwell no livro que leva esse mesmo nome. E esses pontos de desequilíbrio são rupturas que provocam mudanças em nossa visão de mundo. Ou seja, alteram nossa forma de encarar situações, de nos relacionar com os outros e com o mundo, e, inclusive, nossos valores.

Assim, como ocorreu no 11 de setembro, a nossa “régua” de segurança está sofrendo uma alteração sensível. Agora, numa escala muito maior. Naquela ocasião, a incerteza e o medo estavam num avião, numa capital cosmopolita que poderia sofrer algum ataque, num local com histórico de alguma relação com a barbárie terrorista. No caso do Coronavirus, já sabemos que centenas de países e milhões de pessoas estão expostas. E mais: sabemos que uma outra pandemia é passível de acontecer.

E essa sensação de insegurança desencadeará (já está acontecendo) proteções individuais, desejos coletivos e mudanças de comportamento ou necessidades. As primeiras já se manifestam na sociedade, ou, ao menos, nas redes sociais: nacionalismos defendendo reindustrialização local, xenofobia, aversão ao que se tem chamado de “globalismo”, flexibilização de liberdades para maior controle sanitário, repúdio a comportamentos étnicos(termo meramente ilustrativo na falta de uma denominação mais precisa), como cultura de animais e hábitos alimentares, além do medo de sair, enfrentar locais públicos.

 

Dez mudanças que o Coronavirus trará ao mundo

Além do impacto econômico em si, da retração dos negócios e da perda de valor e riqueza expressa nos mercados financeiros, a pandemia irá mudar a face dos mercados, os valores das pessoas e acelerar a jornada de transformação digital.

 

1) Menos “Globalismo”

O modelo de cadeias de suprimentos atravessando oceanos já começa a ser rediscutido. Diversos setores forem severamente impactados já no momento em que a epidemia estava praticamente restrita à China. Para suprir escassez e evitar dependência, é provável que investimentos em infraestruturas locais sejam feitos largamente, embora a um custo exorbitante.

 

2) Mais Automação

Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial já criaram uma nova revolução industrial. A automação deve ser acelerada, agora, não só pela busca de precisão, escala e produtividade, mas para diminuir dependência da força humana de trabalho. O coronavírus gerou escassez de mão-de-obra e aumentou as possibilidades de mais despesas de produção (em razão de licenças médicas) e queda de produtividade por ausência (não só pelo isolamento em curso).

 

3) Redução do contato desnecessário

A Covid-19 provavelmente ensinará que podemos reduzir o contato. A infecção se espalhou em razão de viagens, contatos e aglomerações. A maioria dos países reduziu o contágio e seus impactos no sistema de saúde com medidas de distanciamento ou isolamento social. A depender da velocidade que se chega a uma vacina ou um tratamento que reduza a mortalidade e do quanto nos renderemos ao receio de uma nova epidemia, viagens devem ser reduzidas; delivery deve aumentar, assim como o eCommerce, e soluções digitais para trabalho, interação e colaboração remota serão adotadas.

 

4) Privacidade revista

Em nome da segurança coletiva, a privacidade individual poderá ser rediscutida. Hoje, na China, os drones rastreiam pessoas sem máscaras para que sejam repreendidas por autoridades (por avisos de áudio, clarifiquemos). Alemanha, Áustria, Itália e Bélgica estão usando dados, ainda que a anônimos, para rastrear o movimento das pessoas. Em Israel, o Governo já tem permissão para acessar os registros telefônicos de pessoas infectadas.

 

5) Novo modelo de trabalho

Acordar, se arrumar, se deslocar, sentar-se à frente de uma máquina que te conecta com o mundo, com dados, com sistemas. E ficar, quase o tempo todo à sua frente, excetuando-se as horas de reuniões, calls, videoconferências. Esse modus operandi do mundo do backoffice, de vendas, de atividades não fabris ou exclusivamente intelectuais será reavaliado. Não somente em nome da qualidade de vida. Mas, agora, também da produtividade e da segurança. Imensas estruturas de escritórios que já não agregavam valor às empresas, apenas custos, distrações, deixarão de fazer sentido. Já estavam deixando. Ao invés de carro para a alta gerência, créditos de aplicativos de transporte. Ao contrário da sala com o nome na porta, créditos para coworkings, como o WeWork, ou outras formas de ocupar espaços sob demanda.

 

6) Mais digital

A imprensa vem apresentando dados e reportagens para mostrar que a imensa maioria dos negócios e empresas não estava preparada para um momento assim. A Citrix publicou, em 2019, uma pesquisa que mostrava que 68% das empresas brasileiras não possibilitavam o trabalho remoto. A partir da Covid-19, Cloud, SaaS, Mobile, Coworking, Agile, Webconference, Collab passaram a fazer muito mais sentido para todas as empresas. O mundo será bem mais digital e inúmeras tecnologias terão suas adoções aceleradas para que empresas possam adotar modelos mais ágeis, flexíveis e dinâmicos de trabalho.

 

7) Novos modelos, serviços e canais

Não é a tecnologia que transforma. São as pessoas com seus desejos e suas necessidades. A tecnologia é meramente um viabilizador, uma resposta à sociedade. E o consumidor é um camaleão. A Coresight Research divulgou um estudo feito com 2 mil consumidores americanos. Claro, em meio a medos e incertezas, 58% afirmam que passarão a evitar aglomerações. O que lançará desafios a setores como shoppings, cinemas, espetáculos. Outros 27,5% disseram que começarão a evitar ir a restaurantes e cinemas. Tudo que, até agora, exigiu a presença física para o consumo precisará ser repensado para, ao menos, criar alternativas de canais de venda ou serviços complementares.

 

8) Incerteza acelerando comodidade

Na impossibilidade ou receio de sair às compras, o consumidor optou pelo online. Associação Brasileira de Comércio Eletrônico apontou que, nos primeiros 15 dias de março, as vendas pela internet no Brasil cresceram 40%, em relação ao mesmo período de 2019. O time de logística do Mercado Livre, um dos grandes marketplaces do mercado, precisou ser reforçado para atender à alta da demanda.

 

9) Ascensão dos “intocáveis”

O pequeno varejista percebeu e improvisou, incentivando a transferência bancária como meio de pagamento, por exemplo, ou o uso de plataformas de cashback. É o primeiro sinal de que para todo lado deve começar a busca por sistemas, meios de pagamento incluídos, que dispensem o toque, a digitação e, portanto, o contato físico entre pessoas e equipamentos. Ou seja: formatos que individualizem essas transações. Na China, 35% das pessoas já consideram usar o WeChat, um tipo de whatsapp com mais funcionalidades, como um novo canal de compras e meio de pagamento.

 

10) Mudança no perfil de consumo

Com mais tempo em casa, seja pelo confinamento de agora ou pelo home office próximo, depois que essa crise passar, consumidores devem reduzir seus gastos e investimentos com vestuário, cosméticos, carros. Na China, isso foi registrado pela consultoria Kantar. Em pesquisa com mil famílias chinesas, a consultoria constatou que 67% das famílias reduziram as compras de roupas e 56%, as de cosméticos. Em compensação, os gastos com alimentos e bebidas teriam crescido em 40% dos lares, enquanto o de limpeza teria aumentado para 48%.

 

Não se trata de prever o futuro ou adotar posturas catastróficas. Trazemos apenas essa reflexão para começarmos a entender para onde vai caminhar a humanidade e, assim, os negócios e a transformação digital para ampará-los. O momento tem demonstrado a importância de informação e ciência não só para desvendar os mistérios e incertezas que cercam o coronavírus quanto ao seu tratamento, cura e imunização. Mas, também nessa definição de para onde a economia e o modelo de negócios precisarão ir para recuperar receitas e preparar-se para um novo futuro.

Há sempre o risco para algumas empresas e setores de um desfecho mais dramático. Esse é o caso das empresas áreas, que registram quedas retumbantes na demanda de vôos. As ações dessas empresas recuaram entre 45% e 70% no mês de março.

As pequenas e médias empresas, PMEs, são outro elo frágil e importante de solucionar. Segundo a Organização Mundial do Comércio, as PMEs respondem por 70% do emprego global. Nas economias em desenvolvimento, a OMC aponta que as PMEs respondem, em média, por 55% do PIB do país. Enfim, são momentos de muita apreensão e grandes dúvidas. Mas, uma coisa é certa: o mundo não será mais o mesmo.